Após ter sido fulminado pelo Sol e declarado extinto por boa parte dos
observadores, os restos mortais do cometa ISON ressurgiram na forma de
uma brilhante nuvem de fragmentos em expansão que ninguém sabe como vai
se comportar.
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Após um fantástico rasante
solar a 1.36 milhão de km/h e enfrentar cara a cara o calor infernal da
estrela, o cometa C/2012 S1 ISON foi prematuramente declarado extinto. E
não era para menos.
No momento em que foi
ofuscado pelo anteparo dos coronógrafos LASCO C2 e C3 a bordo do
telescópio solar SOHO, o cometa aparentava muita debilidade, típica dos
pequenos sungrazers que normalmente são atraídos e consumidos pelo Sol.
Além disso, as imagens transmitidas em tempo quase real pela sonda SDO
da NASA também não revelaram qualquer traço do cometa durante a
aproximação ou periélio, uma evidência bastante forte de que o núcleo
havia sido fragmentado.
Se tivesse sobrevido ao
periélio, o cometa deveria reaparecer no campo de visão dos coronógrafos
LASCO poucas horas depois. As imagens do observatório eram fundamentais
para comprovar a vaporização de ISON, mas alguns relatos provenientes
da ESA, Agência Espacial Europeia, começaram a pipocar na internet e
mudaram o rumo da história do cometa. ISON poderia ter sobrevivido.
Os primeiros sinais de que o
cometa ISON não estava totalmente desintegrado surgiram após a
divulgação das imagens brutas do telescópio SOHO, que mostravam uma
densa estrutura em forma de trilha contornando o Sol.
Estas imagens foram
processadas por cientistas na Europa, em especial pelo astrofísico Toni
Scarmato, que se surpreendeu ao notar que a estrutura podia ser formada
por fragmentos relativamente grandes e coesos. Não era uma afirmação
taxativa, mas uma possibilidade levantada por um pesquisador bastante
conceituado e que vem estudando o cometa há vários meses.
A confirmação de que ISON
não estava totalmente pulverizado veio cerca de 4 horas após o periélio,
quando as imagens do instrumento LASCO C3 mostraram um objeto muito
brilhante surgindo atrás do anteparo do coronógrafo, na posição exata
onde ISON deveria estar caso não tivesse sido pulverizado.
As cenas seguintes geradas
pelo telescópio revelaram uma estrutura gigantesca formada pela poeira
do cometa, que seguia aglutinada na forma de uma larga cauda,
aparentemente acéfala.
O que aconteceu com ISON?
Para
muitos observadores, o que se vê neste momento é a nuvem de poeira em
expansão e não um cometa propriamente dito, composto de núcleo, coma e
cauda. Para outros, ainda é muito cedo para se tirar conclusões, pois
devido à posição do cometa em relação ao Sol ainda não há imagens de
alta resolução feitas por telescópio que possam comprovar ou não a
existência de um núcleo.
De acordo com Karl Battams,
cientista do Sungrazers Comets, ligado ao Laboratório de Pesquisa Naval
dos EUA, algumas partes do núcleo do ISON podem ter realmente resistido
ao periélio. Para ele, parece que um pedaço de núcleo de ISON saiu
ileso da corona solar. "Esse fragmento está ejetando poeira e gás, mas
não sabemos quanto tempo ele pode sustentar isso", disse.
Até este momento, não se
pode afirmar com certeza qual será o destino de ISON. Se existir um
núcleo, o cometa deverá seguir sua jornada para dentro do Sistema Solar e
passará pelas cercanias da Terra em janeiro de 2014. Se não tiver mais
seu núcleo, a cortina de fragmentos será dissipada lentamente, selando
definitivamente o destino do cometa.
Independente de ter ou não
núcleo, o show que ISON proporcionou é inegável e até este momento
nenhum astrônomo, amador ou profissional, sabe exatamente como o cometa
vai se comportar nos próximos dias. É aguardar para conferir!
Artes:
No topo, foto mostra possível detecção do cometa ISON pela sonda SDO
durante o periélio (clique para ampliar). Na sequência, contador e
display mostram as imagens mais recentes do cometa, registrados pelo
telescópio solar SOHO (clique para atualizar as imagens). Acima, vídeo
mostra a aproximação, periélio e possível ressurreição do cometa ISON.
Créditos: NASA/ESA, Apolo11.com.